dezembro 12, 2022

Black and White


A  forma de ver
É que coloca cor
Na normalidade dos dias,
Nas rotineiras repetidas atividades,
No frenesim diário.
A beleza existe por si,
É na simplicidade de saber 
Que a beleza se evidencia,
Porque há sempre um arco íris
Quando o sol e a chuva se encontram,
E todas as cores do arco-íris
Vivem dentro de cada um de nós 💕

novembro 22, 2022

Minhas Ancestrais 🙏🥰

A minha avó materna era e sempre será uma referência para mim.  A minha mãe dizia-me muitas vezes que eu me parecia com ela. Da minha avó sentia sempre uma segurança, tranquilidade, leveza, era de uma sabedoria e alegria com rugas serenas, com traços sorridentes, com uma luminosa e generosa alegria por viver.

Quando partiu eu estava a prepara-me para me ir encontrar com amigos na costa alentejana.... Já não fui, a passagem de ano tinha mais luzes no céu que habitualmente, pq acima do fogo de artifício brilhava uma das estrelas mais luminosas que conheci.
Aceitei que com mais de 90 anos é natural que a morte chegue... Chorei, mas aceitei. 
Percebi o quanto era difícil para a minha mãe a ausência física da sua própria  mãe, a verdade é que a minha avó tinha de facto uma presença leve e forte, não conheci mais ninguém assim. Sempre a vi como uma alma iluminada, era mais avançada que qualquer um de nós, pensava eu...
Só quando perdi a minha própria mãe percebi o quão fisicamente doloroso era a morte de uma mãe, na verdade o falecimento da minha mãe foi prematuro, com 70 anos e uma energia incrível ninguém esperava que partisse, nem ela mesma... Talvez agora lhe dissesse acerca de ter perdido  a sua mãe, compreendo o que estás a sentir... Na altura dizia-lhe muitas vezes para seguir em frente e é o que agora recorrentemente digo a mim mesma....
A minha mãe era a pessoa mais generosa que alguma vez conheci e tinha tanta esperança na vida, a sua ausência física fez-me perceber isso, o que antes para mim era um dado adquirido, agora entendo que era ela que nos transmitia...
A sua imensa força era de um amor autentico, puro, reconciliador, transformador. Era a mais avançada de todas as pessoas que conheci até hoje, nisso de amar desmedidamente. 
Agora ambas estão ausentes neste plano físico, assim como a minha avó paterna...
O amor que sentia da minha mãe ultrapassava tudo o que alguma vez senti de alguém neste campo terreno. Às vezes sentia que além de me amar ,  me admirava profundamente, via em mim forças e qualidades que só agora entendo que me pertenciam... Via também em mim as qualidades dela mesma e daquelas que lhe antecederam e quando temos em nós um legado tão forte a responsabilidade é tremenda mas a força que emanamos e somos é diretamente proporcional.

Na verdade, com a partida da minha mãe, não ganhei nada que já não tivesse... Comecei foi a reparar em coisas a que não dava tanta atenção, percebi melhor o amor do meu pai, por exemplo, também o amor dos meus filhos... 

Mas também percebi o desamor, essa ausência de capacidade afectiva que algumas pessoas demonstraram,  pessoas que considerava pertencerem à minha bagagem de amores verdadeiros e passaram a meramente conhecidos , revelando ausência de consciência, altruísmo, empatia, e desprovidos  de demostração de amizade ...
A minha mãe perdoava tudo, talvez por isso tenha ido para Céu,  já eu não sou tão  benevolente e ainda cá estou, com pés bem acentes na Terra... Tenho o livre arbítrio naquilo que trago da minha linhagem ancestral e há um lado que fui buscar à minha avó paterna que era de uma determinação,  nem sempre muito bem vista ou aceite,  mas  que inevitavelmente me protegerá de todos os menos bem intencionados ou desmorosos  distraídos.

setembro 20, 2022

Escrever o lugar

É hora de almoço,

Ninguém no escritório,

Apenas eu a escrever à mão, no lugar, 

Num caderno aos quadradinhos,

Com  a sala na penumbra.

Debruçada na secretária, 

Frente ao computador que coloquei em pausa,

Escrevo num   lugar que frequentemente  ocupo para o cumprimento das minhas funções laborais.

Hoje tento   transformar a saudade em algo mais que a dor desmedida que sinto dentro;

Tenho tentado todos os dias desde que a minha mãe partiu.

A minha mãe gostava  muito do autor  José Luís Peixoto, foi através dela que chegou até mim o livro “Livro” (desculpem-me a redundância mas não é obra do acaso), assim como tantas outras histórias, livros , contos, textos, crónicas e escritores que me sugeriu,  partilhando o seu imenso gosto pelo conhecimento, pela  arte, pelos afetos e  pela vida.

Como professora de português que foi durante mais de quatro décadas terá transmitido o seu enorme entusiamos e paixão pela literatura a muitos alunos,  enaltecendo a habilidade de alguns  comunicarem  através das palavras escritas e o  enorme poder transformador que a leitura pode propiciar.

 

“Morreste-me, Mãe”, é uma frase que muitas vezes me vem ao pensamento neste verão de 2022, numa dor que me trespassa, que às vezes tem o tamanho do vazio que me ficou. Não li o livro de José Luis Peixoto “Morreste-me”, mas o título só por si, numa palavra, diz tanto do que se sente ao perder-se fisicamente alguém que amamos.

Há uma crónica de um escritor que a minha mãe adorava,  António Lobo Antunes, que refere que “as pessoas de quem gostamos  e partiram amputam-nos cruelmente partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro”,  e  essa simples frase descreve bem   o sentimento da crueldade da morte, que é e será sempre prematura .

 

Agora tenho na mesa de cabeceira “ As Mais Belas Coisas do Mundo” de Valter Hugo Mãe, outro autor da sua Top List de escritores portugueses. A minha mãe queria oferecê-lo a um dos netos e eu sugeri que fosse muito cedo para falar a uma criança da morte, ingenuidade a minha,  pois  precipitou-se  necessário, com a partida precoce da avó.

 


A lista dos seus  favoritos é vasta, entre escritores lusófonos e das mais diversas nacionalidades e localizações geográficas.  

A verdade é que tento ocupar o imenso vazio da sua ausência de alguma coisa, mas qualquer coisa me parece insuficiente, pequena, insignificante, e então vem a dor como uma sombra que se  agiganta  para devorar o vazio. Talvez escrever o lugar me faça permanecer, em mim, recriar as memórias e pontapear a dor da sua ausência para nela recriar a felicidade  que é ser filha de uma  mãe tão imensa.  Talvez a leitura me salve da tristeza por tê-la perdido tão cedo, talvez a leitura me faça voltar a encontrá-la no prazer por ler, ou talvez seja a escrita a salvação, para que não haja dor sobre o silêncio nem sobre espaço para a dor ficar. Para, assim,  o  vazio ter palavras e ser literário.

Ou talvez tenha de sair do lugar uma vez por outra, ir a outro lugar e a outro, para fazer da continuação da minha vida tantas histórias, e ler e escrever em muitos  lugares e, tal como me mostrou a minha mãe,  preencher os vazios de conhecimento, cultura, literatura, afetos e sobretudo de um  entusiasmo contagiante por viver.

agosto 24, 2022

Monólogo com a minha Mãe


 Mãe,

Tenho saudades tuas,
Às vezes lá me distraio
Com as pessoas, 
E vou procurando nelas partes que se pareçam contigo...
Por vezes usufruo da presença dos que cá continuam, como eu, e que Amo profundamente,
Também me distraio com  passeios na natureza (onde perscruto o teu brilho delicado ),
Com um livro que folheio e leio,
Com um filme que seleciono,
Com as múltiplas tarefas de mãe, solteira, trabalhadora,
Com tanto e tão pouco...

Buscas de sossegar o meu coração.

Observo...
E os meus olhos enchem-se de lágrimas...
Os horários cumprem-se nas rotinas impostas e acolhidas,  num tiquetaque frénico para pagar as contas mês após mês  e deixar que a vida vá passando, com sonhos arrumados em armários cujas chaves nem sabemos por vezes onde pusemos. A vida é tão passageira para não se construir a felicidade a cada despertar, de nada serve andarmos numa correria diária para cumprir obrigações impostas se não formos pelo menos um pouco felizes, todos os dias.

Um dia todos vamos morrer, eu sei isso, sempre soube, vi cedo a fragilidade da nossa passagem pelo planeta Terra. Tinha 10 anos quando uma das  minhas melhores amigas da escola morreu num acidente trágico, tinha 20 quando um primo irmão quase morreu e renasceu na mesma vida,  preso a uma cadeira de rodas, tinha pouco mais que isso quando partiu a minha tia mais bonita, já lhe tinham amputado um braço na tentativa que vivesse mais uns anos, antes dos 30 o tsunami 2004 levou duas pessoas lindíssimas e muito próximas da minha família, eram novos e teriam muitos projetos por cumprir.

A vulnerabilidade da vida sempre me causou dor e tristeza, também me foi mostrando que o melhor que temos é o Amor, a possibilidade de partilhar os afetos, também o conhecimento, o potencial  de crescermos e evoluirmos, e que pouco mais nos resta que sermos felizes com o que temos ou somos, sempre que possível.

Na segurança do teu Amor incondicional, a esperança que eu sentia eras tu que alimentavas...
A tua presença fazia-me acreditar e confiar que um dia as tempestades da vida iriam  passar, que um dia os meus sonhos se realizariam todos, fossem ir a África, ao Perú,  ter uma casa num local calmo próximo do mar, dedicar-me à escrita 3 horas por dia e aprender a desenhar e a pintar, ter por companhia o homem que Amo, ser base de Amor  e segurança para os meus filhos, poder partilhar mais tempo com amigos, rir até às lágrimas mais vezes que chorar de tristeza,...

E, sem aviso, tu que me garantias que ias morrer velhinha, partiste, tu que me trouxeste ao mundo e me acolheste no teu ventre, tu que me alimentaste do leite dos teus seios quando ainda era tão vulnerável e frágil, tu que sempre estiveste disponível para mim com o teu Amor, foste-te  e levaste contigo a esperança de realizar tantos sonhos. Fiquei com uma espécie de resignação, melancolia e um pouco perdida nos meus objetivos de futuro...

Se um dia todos vamos morrer é porque algum dia nascemos, porque a sucessão de acontecimentos, encontros e desencontros, paixões arrebatadoras, amores secretos, juras de união, acasos ou coincidências, permitiram que viéssemos ao mundo , e  pelo que se estima desde 300 mil e 100 mil anos atrás que nós Homo sapiens por cá andamos.
Também tenho observado muitos casos de superação , aliás, foste em valioso exemplo disso quando acordaste do coma depois de duas neurocirurgias, bem disposta, lúcida, sorridente, cheia de vontade de seguir caminho.

É nos exemplos de força, resiliência, 
Alegria e entusiamo pela vida que me foco ...
Estou a cuidar de mim , 
Voltei a fazer exercício, 
Vou reconstruindo os meus sonhos devagarinho,
Passo a passo, 
Mas não está ser  fácil,
Há um vazio enorme no espaço que te pertencia, 
Um vazio em que a tristeza quer entrar
Sem que se  lhe dê licença,
Um vazio ao qual pertencia a tua voz,
As tuas gargalhadas,
O teu cheiro,
O teu olhar,
A tua presença física...

Talvez com o tempo aprenda a preenche-lo de memórias felizes,
Mas por enquanto as memórias reavivam a saudade,
E vêm em jeito de tempestade a chorar-me dentro.

Tenho tantas saudades tuas,
Da voz, das gargalhadas, do  cheiro,
E também dos conselhos,
Da paciência enorme em ouvir-me, 
Do sorriso,
Dos teus abraços, ...

Queria contar -te tantas coisas,
Sentir aquele entendimento pleno que confortava,
Aquela tua maneira serena e doce de aceitação,
Tenho saudades do teu Amor,
Aquele Amor que não punha condições,
Tudo o que eu fizesse , fosse ou escolhesse estaria certo,
Saudades do quanto confiavas em mim.


Queria falar contigo, 
Aquelas conversas só nossas, sabes,
Não pensei  que te fosses tão cedo desta vida,
Percebo que com o passar dos dias as saudades vão aumentando...
E que quero preencher o vazio de memórias felizes.

Queria contar-te as coisas simples...
Como os bolos que a tua neta andou a fazer no fim de semana, 
Ou o trabalho em part-time que arranjou, 
A área que o teu neto mais velho escolheu para seguir no secundário,
A íntima amizade cheia de cor que me faz sentir bem,
As fofoquices e dinâmicas do meu trabalho,
Os assuntos do mundo,
O filme que vi no outro dia,

Ficaram muitas coisas por dizermos uma à outra, mas no silêncio sempre soubemos a imensidão do Amor que nutriamos 🙏💕
Queria que soubesses quando pretendo publicar o próximo livro* ... 

*Vai ser dedicado a ti, leste-o tantas vezes para correções  que é e será sempre um projeto nosso


julho 28, 2022

Era uma vez ...

Os meus pais  casaram-se jovens, cheios de sonhos, inocência, paixão e criatividade. Conheceram-se nos bailes, no tempo em que o namoro começava com o homem a convidar a mulher para dançar. Toy era bom dançarino, e Sol um pouco mais tímida mas deixou-se seduzir pela simpatia e cortesia  do belo rapaz que insistentemente a convidava para rodopiarem juntos no salão, para se equilibrarem  no movimento delicado dos corpos a acompanharem as melodias.

Ambos nascidos em Angola, nos anos 50, em resultado dos seus familiares terem sentido necessidade de procurar melhores condições de vida, como consequência do regime politico do  Estado Novo em Portugal.

Sempre gostei  de folhear os álbuns de fotografias antigos, é como ter acesso ao  passado, observar histórias através das imagens escolhidas, dos frames  da vida registados e impressos. 

O álbum de casamento dos meus pais mostra rostos muito jovens, lembra histórias de príncipes e princesas, fadas e seres fantásticos, as roupas especiais, risos, poses, celebração e memórias antes de mim. Os álbuns contam as histórias que quis contar  quem cuidadosamente os organizou,   histórias ilustradas, a minha mãe era boa a contar histórias.

O  mundo dos contos e da fantasia povoaram desde cedo a minha infância, talvez por isso observasse tudo como parte de um argumento maior do qual todos fazemos parte. 

Sol estudara línguas e literaturas românicas, tornando-se, muito jovem, professora de português e francês. Gostava das palavras, da literatura, da poesia e eu crescera com uma formação intensiva para o domínio da língua, escrita e falada. Não  escapavam erros de português a Sol  e,  ironicamente, sempre fui  extremamente distraída e por vezes trocava “s” por” “c” ou “ss”, ou “o” por “u” mas sabia,  num misto de resignação e  rebeldia,  que esses lapsos ortográficos seriam  detetados e corrigidos pela minha mãe. 

Toy trazia o gosto por desenhar com  facilidade e aptidão para a matemática. Além disso sempre gostou também de fotografia, de desporto e é daquelas pessoas capazes de resolver enigmas, consertar coisas e descobrir o valor das incógnitas.

Há dons que nascem connosco mas que só podemos desenvolver se nos forem proporcionadas condições para tal. Tive o privilégio de me ter sido incentivado desde cedo o acesso à arte e também ao gosto por aprender. Também  a bondade, o humanismo, a justiça, a solidariedade, foram competências incentivadas pelos meus pais.

Mais de meio século de vida em comum, pq aos anos de casamento se somam os de namoro. 

Na verdade eram o complemento um do outro, vê -los juntos era tão certo como o azul do mar ou a grandiosidade das florestas verdes.

Conseguiram manter -se juntos mmo quando a vida lhes pôs os maiores desafios, aceitavam as imperfeições um do outro assim como cada um de nós aceita as suas próprias fragilidades porque a perfeição é para onde caminhamos não onde estamos.

Amavam-se verdadeiramente , riam-se juntos, cuidavam um do outro, de si mesmos,  faziam o projetos em conjunto.

Amores assim são raros, é preciso ser -se gentil e grato com a vida.

Eram generosos juntos, cuidaram dos meus avós maternos com todo o amor e na velhice, com mais de 90 anos, foi com os meus pais  que puderam contar para as necessidades de apoio que surgiram.

Anos de viagens de muitos kms frequentes, com o objetivo de os apoiarem, contactos com pessoas que pudessem cuidar deles e da casa e não precisassem de ir para um lar. Qdo não podiam,por algum motivo, lá ia eu ou o meu irmão ver como estavam os velhotes.

Não tive possibilidade de cuidar da minha mãe velhota, partiu fisicamente antes que tivesse qualquer necessidade de apoio ou dependência. Vou recorda-la sempre forte, cheia de vitalidade, com aquele sorriso generoso, a gargalhada límpida e o enorme amor que me tinha, que nos tinha.

A genuína gentileza e  puro amor não é para todos. Juntos, estavam  sempre  disponíveis  para os filhos, netos, e tb para outras pessoas... Quem esteve atento e de coração aberto percebeu -o e sentiu-o.

minha mãe queria ainda fazer tantas coisas e merecia-o, locais que gostava de visitar, pessoas que gostava de abraçar, e novos projetos criativos para tornar o mundo um lugar melhor e mais bonito, como as pinturas de mandalas, os filtra-sonhos as malas coloridas feitas com amor e na perfeição. 

O meu pai foi um privilegiado por ter sido a pessoa que neste mundo esteve com ela  mais horas de vida partilhada. Esse privilégio foi  livre escolha de ambos e também recíproco, a minha mãe foi uma privilegiada pelo amor que ele sempre lhe dedicou.

Há projetos que não vão poder realizar os dois mas faço votos que o meu pai possa realizar alguns por ambos e por si próprio também porque vi, senti e ainda pressinto o amor imenso que souberam ser em conjunto, um para o outro e também para os que lhes estavam perto 🙏💕

Porque a vida continua para cada um de nós que cá permanecemos e o passado serve para ser memória feliz e honrámo-lo,   para ser  impulso de agradecermos o respirar e as ínfimas possibilidades de sermos felizes e criarmos o futuro: 

Contamos contigo pai,  para construirmos mais amor, empatia, justiça, equitabilidade, alegria, num mundo tantas vezes virado do avesso . 

Contamos que a mãe , que em jeito de anjo da guarda, nos ilumine e proteja .

Beijinhos dos filhos e netos,

Consequências vivas do vosso encontro amoroso 🥰

junho 21, 2022

Sunshine 😇 Anjo de Luz

 



Queria escrever -te um poema, porque sei que gostas de poesia, mas  também queria que me corrigisses os erros de ortografia.

Graças a ti tive um curso intensivo de escrita criativa,  desde que aprendi a ler e a escrever, e pude brincar a ser escritora e  ousar até a tentar sê-lo .

Tantas histórias que contaste, poemas, lengalengas, tantos textos que corrigiste, tantos  livros que me recomendaste a ler e tanto que gostavas do que escrevia.

Queria escrever um poema mas se errar não deixes de me ensinar. 
Nesse poema em prosa, que vou tentar escrever, se me enganar, sussurra -me como melhorar.

São tantas as ligações afetuosas e de amor que criaste nos teus 70 lindos anos de vida , tantas saudades que ficam em muitos corações, amigos (as) de infância, alunos (as), colegas de trabalho, famíliares.
Soubemos partilhar tantas alegrias juntos.
À família mais próxima vais deixar saudades infinitas assim como são infinitos os momentos bonitos a recordar.

Gosto de acreditar que foste escolhida, entre os melhores, para os afazeres, muitas funções e trabalhos angelicais. Na verdade não nos pertences, não pertences a nenhum de nós, e és tão grande que outros precisam dos teus cuidados de luz. Tivémos o privilégio de partilhar tanto contigo, tantos momentos felizes, nos nossos corações eternizados. 

Estes dois meses e pouco foram muito exigentes, acreditavamos mesmo que ias recuperar.
Lembraste -te quando acordaste das duas neurocirurgias? 
Mostraste consciência e revelaste o teu imenso altruísmo "a guerra na Ucrânia já terminou?"
E escreveste com uma letra tremelicante "PAZ".

Querias saber como andava eu de amores e até me perguntaste pelo loiraço , porque além de minha mãe eras minha amiga, minha confidente e falámos de tudo com um respeito enorme pelas nossas diferenças e um Amor que só almas grandes podem abarcar.
Lembraste-te que não poderíamos esquecer a data para pagamento das propinas da faculdade da tua neta.
Até vulnerável tinhas essa capacidade de te prontificares em cuidar dos outros . Isso está em défice nos humanos, é mais coisa de anjos ou de santos, não te parece?

E quando tiveste alta do hospital? Disseste-me sorrindo " o teu pai estava mais nervoso que eu para que tudo corresse bem" . Tão linda a vossa relação de amor, tão amoroso e dedicado o pai contigo também. Mas não era para menos, tu és, e sempre serás, a nossa maior inspiração.

E quanto, já com telemóvel mas ainda a recuperar em termos neurológicos e físicos, me contaste que tinhas falado com a tua irmã por vídeo chamada e que tinhas pena dela pq começou a chorar? Até numa situação tão delicada tinhas o dom da empatia. Não há muitos seres humanos assim.

Da última vez que falámos uma com a outra, lembraste? Estavas tão frágil, mas depois consegui fazer-te rir e até quiseste que tirassemos uma selfie.
Querias saber como estavam os amigos recentes que tinhas feito na instituição de reabilitação , preocupada com eles .
E quando, depois de mais de duas horas de visita,  te disse que tinha que ir e que depois voltava , tu a enviares -me beijinhos e a dizer "eu compreendo".

Nem todas as pessoas gostam de coisas simples mas tu gostavas e gostavas tanto de nós, gostavas tanto de todos.  Quando fomos contigo apanhar sol dizias "tão bom", quando encostei a minha cabeça à tua, recentemente,  afirmaste "tão bom".
Quando viste a foto da tua mais nova sobrinha-neta (neta do teu irmão e da tua cunhada querida)  sorriste e pediste -me que  enviasse um beijinho teu à sobrinha e à bebé.

Vais fazer -nos falta,  fica um vazio no lugar imenso que te pertencia, vais ter de arranjar umas pausas nas tarefas de anjo de luz,  para nos vires visitar , de vez em quando.



abril 26, 2022

Sunrise ☀️🍀

💗

Comemorar o nascimento de uma mãe

É comemorar a vida , 

Os  tempos que nos antecederam, o hoje, o futuro 🤗

Festejo o nascimento e a vida da mulher que me trouxe ao mundo e sua própria liberdade e escolha de continuar connosco 🙏

Mãe Solange, celebrar-te hoje é uma dádiva e duplamente entusiasmante 💕

Comemoramos o teu nascimento e o ser humano que és, alegre,  altruísta, criativa, empática, persistente, inteligente, resiliênte,  amorosa, paciente, carinhosa, cheia de energia e essa vontade de seres cada vez melhor e de aprender todos os dias.

🍀🍀🍀🍀

Festejamos os teus belos anos de vida e o teu despertar em data de aniversário, porque renasceste novamente na mesma vida, neste abril de 2022.

Sentimo-nos gratos por fazeres deste teu dia de aniversário uma celebração e a certeza que a vida tem mesmo muitos motivos para sorrirmos.

Que venham muitas voltas ao sol, tragam dias alegres, tranquilos, saudáveis,  amorosos e positivos  ☀️🤗

Cá estaremos, juntos, para superar desafios e nos amarmos confiantes na vida 🥰

abril 06, 2022

Hoje talvez nasça um poema

Sabes quando a manhã começa aparentemente igual a tantas outras, o despertador que toca à mesma hora, os dez minutos que pões a mais para fingir dormir mais pouco, o sol a entrar pela janela da cozinha enquanto o cheiro a café vai impregnando, algum transito a caminho do trabalho…

E então começas a reparar que cada gesto ou ação é novidade, que a repetição é só aparência, que é mesmo um novo dia e as rotinas apenas são ilusão superficial do despertar.

É a partir de dentro que acordamos. Não é o exterior que nos desperta, somos os nossos próprios gestores e decisores do que sentimos dentro.


Pensar é uma forma de traduzir sensações e emoções em ideias e permite-nos a comunicação, nem todos os animais são dotados de pensamento, saber pensar é essencial para ser humano e feliz, mas também para criar felicidade.

Sempre gostei das palavras, talvez por isso tenha começado a falar cedo e também cedo a escrever… Gosto da escrita, das palavras em português, da possibilidade de chegar ao  outro através da linguagem.

Claro que há muitas linguagens, a arte disponibiliza-nos uma vasta panóplia de comunicação, e a arte de escrever requer,  mais que disciplina, leitura e treino, a ousadia de nos atirarmos em voo confiando que se dissermos  as palavras certas vamos conseguir planar e, mais além, comunicar aos outros  como se faz.

Cada um de nós tem em si o potencial de ser o que quiser, quem quiser, e se cada um tiver a ousadia de escolher o melhor de si, imagine-se o potencial de transformação da humanidade que teremos pela frente. Estamos interligados uns aos outros, não somos meros indivíduos fechados no ego  umbilical. Assim que começamos a respirar, e lembro-vos que costuma ser sonoro esse chorar para a vida, deixamos de estar dependentes do corpo de alguém para sermos nós mesmos (embora por algum tempo a vulnerabilidade e necessidade que nos alimentem, cuidem, vistam, acarinhem). A  ligação que mantemos uns com os outros, não física, mas emocional, existencial, espiritual , não é umbilical mas  vem de dentro.

Dentro de cada um de nós, além do potencial para sermos o que quisermos, ou quem quisermos, encontramos a consciência universal,  o âmago da essência de toda a vida.