novembro 03, 2023

POEMA DE AMOR.💕


Quero saber da poesia,

Por isso olho as tonalidades da paisagem,
Para pintar com palavras e cores  tal harmonia.

Por querer  saber mais do que  vejo,
Fecho os olhos a ouvir a melodia,
Escuto o vento de passagem,
Do mar registo o marulhar,
Oiço  as vozes das crianças a brincar.

Na boca provo cada alimento,
Degusto o vinho,
Beijo,
E no beijo saboreio a  poesia.

Cheiro as flores, os jardins,
A terra depois da chuva, 
O café matinal na cozinha ensolarada,
O teu perfume.

E na pele ,
No toque da tua pele quente,
Vivo a poesia,
Na nudez dos nossos corpos.
De mãos dadas,
Gemidos de poesia.

Sou  da poesia 
Que perscrutei,
Faço  poemas para abraçar,
Com a arte de desenhar palavras.

Na poesia  palavras da vida,
Na vida o nosso amor,
É  poético o amor que fazemos!

As tonalidades que vejo, as melodias, o som do mar,
As crianças,  o cheiro da terra, o teu perfume, 
A dança intima dos nossos corpos,
Poema de Amor.

junho 19, 2023

Fui colher girassóis 🌻para não chorar

Gostava de girassóis,  a minha mãe,   e gostava tanto da vida, de rir, de sorrir, de flores perfumadas, da praia e do mar salgado, das pessoas...

Fui colher girassóis e chorei, são tão bonitos os girassóis que me emocionei. 
Vejo com os meus olhos   humedecidos a beleza da vida e  honro a sua memória, era tão meiga a minha mãe, tão bonita, tão determinada e ainda era jovem... Foi precoce a sua partida... Ainda ficaram tantos girassóis para ver, tantos locais para conhecer, tantos abraços por reforçar, tantos risos, tantos beijos, tanto que ficou por fazer, que ficou por dizer ...
E tanto que fez, porque  era tão inteira, verdadeira, não era de meias palavras nem de amores pela metade!

Tudo o que viveu foi com intensidade, com o coração cheio de tanto e via-se bem nas suas formas leves e delicadas mas firmes, no olhar terno com que iluminava tudo, no sorriso que se lhe desenhava no rosto nos momentos felizes... O timbre da  sua voz vibrava  ligeiro e raramente aumentava de volume, mas isso os seus ex-alunos poderão descrever melhor que eu... Suponho, que uma ou outra vez, tenha sido necessário pô-los à escuta, aumentando o tom da sua voz suave.
Era uma Mulher de Paz, tinha também muita Esperança e acreditava genuinamente no melhor das pessoas e na Bondade, porque era naturalmente gentil e generosa!
Mas também se exaltava quando queria melhorar algo e não se contentava com o suficiente  ou o mais ou menos, era ousada na sua sabedoria, acreditava num mundo melhor e sabia bem aqueles com quem podia contar... A muitos nutriu afeto, a vários respeito e gratidão, por  alguns  sentiu compaixão.

Já não está   fisicamente presente, partiu há um ano, faz falta a muitos, deixou saudades tamanhas em tantos bondosos corações e simultaneamente está em toda a parte, em tanto que se recorda a sua existência! Até nos   girassóis florindo nos campos é lembrada e em jarras (como as  de Van Gogh) ficou a memória  da sua  presença.



Hoje colhi girassóis para para não chorar e ainda assim sorri de lágrimas nos olhos...

Agradeço a imensidão de Amor que plantou nas nossas Vidas, em nós ficou permanentemente brotando no pulsar das  memórias em cada coração que amou, para sempre, enquanto a eternidade for a vida em nós.

As pessoas assim , que espalham Amor desmedidamente, semeando ao vento, sem que as detenham as tempestades,  são raras, deixam à beira dos   caminhos daqueles  que conhecem , imensos girassóis florindo.

Se nos vossos dias , nas esperanças dos  amanhãs que chegarão, ouvirem o eco de  sonoras gargalhadas, não se iludam, é a minha mãe,  e a  sua  boa disposição, a fazer lá do Céu um lugar melhor ...

 (É até bem provável que esteja acompanhada da irmã mais velha, sorridente, e  do irmão mais novo igualmente animado e bem disposto)




abril 26, 2023

Dia de Sol ☀️ 26 ABRIL 1952

Não estava lá naquele dia, ainda não me tinha sido dado o privilégio de nascer.

A festa era a tua,  vinhas ao mundo linda e rechonchuda,  numa discreta e feminina forma de nascer, com um primeiro respirar sonoro mas não demasiado, o suficiente para se fazer ecoar num raio de vários kms, perfazendo a área da cidade de Moçâmedes. A quarta filha do casal Ribeiro, da família Pires Correia como assim vos conheciam, por herança  do teu avô materno. Em  toda a cidade se fez sentir a festa da tua chegada. O dia começou luminoso, a chuvinha do dia anterior tinha deixado tudo com ar de lavado e as cores pareciam mais contrastantes, os cheiros mais perfumados... Não me lembro de nada disso,  que eu ainda nem era eu, mas imagino assim, alguém tão especial, ao vir ao mundo, faz dos lugares locais melhores e mais belos...  Até os sons se fizeram mais melodiosos, o marulhar salgado na praia, os passarinhos aqui  e ali a comunicar  entre eles, as conversas alegres das pessoas, as canções ecoadas pelas vozes de alguns...A temperatura amena.

Tinha tantas coisas para te perguntar sobre esse dia, mas talvez também  já não te lembrasses... Embora a tua excelente e perspicaz memória, tão viva .
Quem com certeza teria peripécias e boas memórias da feliz data que escolheste para nascer fosse a tua mãe, com quem agora imagino que estejas,  a fazerem um brinde à  existência, que embora  curta suponho que fiquemos a recordar na eternidade.

Sei que tinhas planeado viver mais 2 décadas no mínimo, sei-o porque me disseste, porque me garantiste ... Vê lá da próxima não te enganes, que não aguentarei perder-te demasiado cedo mais nenhuma vez!

Sei que a perda que sinto da tua ausência física é em duplicado, com o dobro do vazio que seria de esperar, o dobro da dor, a tristeza a dobrar... É que perder uma mãe é doloroso,  fica-nos um vazio exposto por dentro sem espaço para se encher de algo mais além da saudade e perder uma amiga, a melhor amiga, é igualmente a vertigem do vazio a preencher-se de saudade. Foi uma dupla e precoce perda. Ainda nos fazias muita falta a todos, talvez tenha havido um erro de cálculo no Universo, um lapso, um engano Divino... Deus não precisava de ter tanta pressa em levar-te para junto dele...Mas tudo bem, vou fingir que compreendo.

Sei que o vazio que a tua partida deixou em muitos corações é maior do que se poderia imaginar, nem tu mesma terias consciência da falta que irias fazer, da dádiva que foi para todos o teu amor, humor, perspicácia, inteligência, determinação, resiliência, generosidade, criatividade... E a sério que não são só palavras, nem adjetivos escolhidos aleatoriamente no dicionário, são atributos que te pertenciam. 

É-me inevitável umas linhas de desabafo... Apenas há 10 meses que te ausentaste... e se fiz bem as contas estiveste 568 meses  presente na minha vida (e eu na tua)...  Não fazes apenas parte do meu ADN, fazes também parte das minhas memórias de vida em muitos meses de existência, dia após dia. Viste-me e sentiste-me nascer e infelizmente eu vi-te e senti-te partir para o outro lado ... Não me conformo, é demasiado triste... 
Só me consola a alegria por teres nascido, mesmo quando eu seria apenas pó de estrelas, nem sequer uma ideia ou projeto, apenas poeira universal, sem nome nem endereço, mais tarde,  consequência do teu encontro amoroso com o meu pai.

Hoje é dia de festa, não vou mais choramingar as saudades e as ausências, vou celebrar , continuo cá, na certeza de ser um prolongamento vivo de ti...

Do dia em que nasceste poucos já terão memória, talvez os teus irmãos mais velhos, ou talvez fossem ainda muito pequenos para registar o dia em que vieste ao mundo... 
Dos dias em que viveste, as memórias serão incontáveis, tantas pessoas que tocaste, no percurso profissional como professora, tantos seres que cativaste, tantos colegas também de trabalho com quem criaste laços de amizade, tantos amigos e afetos, e  que afortunados os teus familiares, filhos, netos, sobrinhos,  irmãos, a todos tocaste com a tua assertividade, com a tua gentileza, o teu jeito suave, meigo  e determinado de ser.

abril 11, 2023

Conselhos de mãe 🦋

Ouvi há dias a frase :


A minha mãe ensinou-me muitas coisas, ensinou-me  o  mais importante, mas não me ensinou tudo, aliás, um dos ensinamentos que me deu foi que o conhecimento se pode adquirir de muitas maneiras e é uma descoberta constante e que devemos estar sempre em atualização, ensinou-me que o mais importante é sermos nós mesmos e amarmos  e  que sempre vamos estar seguros independentemente das circunstâncias.

Ensinou-me que também eu tinha algo para ensinar, bastando querer em mim mesma.

A viver e a prosseguir, a ir em frente, independentemente dos obstáculos no caminho. Também me ensinou que podemos chorar às vezes mas não por demasiado tempo, que nada é mais transformador que gargalhadas genuínas.



Deu-me muitos conselhos e os conselhos são ensinamentos que ficam mesmo depois de estar ausente fisicamente .

A presença, conforto, segurança do amor incondicional de uma mãe é algo difícil de explicar por palavras,

Afortunados de nós que o têm ou tiveram, pois conhecemos  o que é esse cálido colo de amor que nos apara todas as quedas, vertigens, dúvidas e percalços no percurso.

Viver sem uma mãe não é fácil, sem  uma mãe como a minha então, é difícil...Mas faz parte do ciclo inevitável do nascimento e da morte, quanto melhor o aceitarmos e  aprendermos mais felizes seremos, mas leva o seu tempo… E o tempo de “luto” , como lhe chamam,  varia de pessoa para pessoa …

Aconselhou-me a permanecer! A ser forte , resiliente e generosa!

Cada dia que acordo percebo o vazio, a ausência de rede nas agruras na vida, sei e confio que está comigo, nas memórias felizes que são  conforto ao meu coração, mas falta-me em tantas coisas, na permanência física que era na minha vida.

Há dias em que nada me motiva, há dias em que não tenho esperança nem fé...

E há dias em que me levanto e recuso a desistir e lembro-me de tudo o que me ensinou… Sobretudo do quanto me amava 🙏💕

fevereiro 24, 2023

Cartas de amor iliterarias

Já escrevi tantas cartas de amor, sobretudo à mão, e enviadas por correio... A maioria chegaram aos destinatários.

Também recebi cartas de amor, tantas...
Recebi músicas feitas para mim, nem só de cartas se faz a correspondência...
Mas há cartas que escrevi e não cheguei a enviar.... Ficaram como que  guardadas num recanto só meu, tímidas por se fazerem ler...

Não são literárias, a literatura tem que chegar ao destinatário, de outra forma não passa de uma intenção de o ser...
A literatura começa no leitor, por isso seriam apenas cartas de amor vulgares, não fosse a invulgar verdade de as escrever sem as enviar.



fevereiro 17, 2023

Convite

 Não sei onde me habita a tristeza,

Alojou-se em mim depois da minha minha mãe ter partido,
Pediu-me guarida e instalou-se discretamente.
Às vezes nem dou por ela, passa-me despercebida.
Mas se lhe toco ao de leve,
Lá se agita toda e é um espirrar de soluços e lágrimas delicadas.


Primeiro veio um vazio, como se me tivessem arrancado um órgão
Ou uma parte física do meu corpo.
Um vazio enorme,
Um buraco gigante que me fez duvidar se estaria oca por dentro.
E a tristeza que se andava a passear tristonha do lado de fora,
Veio aninhar-se ao vazio dentro de mim.
Toda contente, a chorona,
Achou que podia permanecer no meu regaço, 
E tem-no feito com regularidade, 
Com o seu jeitinho discreto e lamechas.
Não quero que me habite, 
Pode vir ver-me uma ou
outra vez,
Mas não quero que fique,
Nem que seja em mim moradora.
A tristeza é boa para cicatrizar a dor, para preencher o vazio,
Mas melhor que a tristeza são as memórias felizes,
E é a elas que dou permissão para permanecerem.
Por isso convido a tristeza a sair 
Sabe-se lá de onde em mim, 
E embora resmungue "que é tao triste uma tristeza
Andar por esse mundo sem sítio para morar",
Convido-a a fazer-se boa memória,
Só assim terá lugar cativo.

fevereiro 13, 2023

Celebrando -Me

Ante a vida me celebro, celebro os novos dias,

Celebro a esperança renovada e a lufada de ar a que me permitiram os meus pais na decisão de eu nascer.

Nasci grande, pensavam que seria  um rapagão, na altura ainda nem havia ecografias (e talvez ainda existisse o preconceito de que as mulheres seriam sempre pequenas).


Escolheram a data, uma quinta-feira feira depois do carnaval, já passada a folia e a euforia, para que eu viesse ao mundo num dia calmo e também já sem ressacas carnavalescas.

Naquele  dia comecei  por teimar em não chorar com umas palmadinhas no rabo, tão perplexa estava com a realidade extrauterina que me pusera a observar antes mesmo de anunciar a minha chegada com um estrondoso berro.

Levaram um alguidar com água a ferver e quase me queimavam os pezinhos com o vapor a escaldar, não revelasse atempadamente um ensurdecedor resmungo, pondo os pulmões em ação.

Gosto de imaginar que, ali perto, os animais selvagens me terão ouvido.

Nasci em África, numa região de paisagens exuberantes, num local de enorme biodiversidade, onde as águas marinhas são ricas em marisco e pescado e onde nas dunas do deserto se escondem espécies de seres únicos e incríveis. Gosto de imaginar que algures um Leão do Kunene terá ecoado, nesse dia quente de Fevereiro, em pleno Verão, um enorme e sonoro rugido de boas vindas. Gosto de imaginar que algumas girafas, do alto das suas pintas, terão captado as sonoridades pelas  suas  orelhas expressivas,  elegantemente colocadas na  cabeça sobre o longo e esticado pescoço. Gosto de imaginar que as riscas das zebras se arrepiaram numa complementaridade de padrões pretos e brancos. Gosto de imaginar que um elefante africano sorriu entre as suas presas cobiçadas pelos caçadores furtivos na sua elegante e enorme  dimensão de herbívoro pacifico.

Não sei porque não fomos feitos de modo a soltar uma gargalhada com o primeiro respirar, não sei porque nos inventaram a chorar ante a existência.

Talvez seja  a consciência da separação, da individualidade que somos ao nascer, que nos emociona .

Cortam-nos o cortão umbilical, retiram-nos do útero confortável (mmo que um pouco apertado a dada altura), nus e sem pelo,   completamente dependentes dos cuidados de outros vemo-nos expostos, consolados no colo dos que generosamente nos mostram amor e alimentados pelo seio materno, por algum tempo a nossa única fonte de alimento.

À medida que crescemos vamos aceitando a nossa independência e individualidade, o cordão umbilical, em analogia ao cortar da fita nas inaugurações, é a celebração da nossa chegada ao planeta terra. Depois há outros acontecimentos importantes ao longo da vida, qdo vamos viver para nossa casa e saímos da dos pais, por exemplo, ou quando damos à luz ou escolhemos ser colo e abrigo de outros seres.

Talvez choremos ao nascer porque o mundo está desajeitado!

A ausência física da minha mãe, desde o início do verão de 2022,  foi como um vazio enorme que se abriu e só não digo abismo porque abri as asas ante o vazio e no vôo tudo é paisagem. Chorei e ainda choro muito porque embora saiba que estamos todos ligados abraço a individualidade do meu viver. A individualidade dói, assim como a consciência, não se iludam, a possibilidade de contemplação ante o ser que somos é o que minimiza a dor e faz soltar gargalhadas.

E hoje nasci de novo nos 48 de vida já somada e nos tantos passos firmes que vislumbro pela frente, cheios de sonhos, do mesmo tamanho daqueles que tinha quando ainda era menina, com a consciência que não vou realizar todos mas que muitos vão ser concretizados, os mais importantes, aqueles que não poderia deixar de fazer reais nesta minha passagem pela vida que me foi presenteada.

Renasci hoje,  sem a minha mãe fisicamente presente, sem os beijos repenicados, os abraços demorados,  as mensagens carinhosas, os mimos, os afetos... Renasci lembrando quem sou, de onde vim, quem me trouxe ao mundo, o tamanho dos sonhos que tinha para mim... O tamanho dos meus próprios sonhos.  Renasci honrando a minha memória, a memória de todos os que me quiseram e querem amor.

Sinto -me grata pelos que são presentes, não há bem maior que o amor daqueles que amamos.

🙏🥰

 

janeiro 13, 2023

Felicidade


Não adiemos mais a felicidade 

Abracemos, delicadamente,
Esse estado de contemplação e gratidão,
De que é feita.
Deixemo-la acarinhar a dor,
Limpar -nos as lágrimas.
E levemente , embora com pés na terra,
Talvez nos possa  fazer levitar!
Pois é de leveza a matéria da felicidade,
De gargalhadas sonoras,
Não tem alienação nem embriaguez,
Tem todas as cores.
Percorre a luz e também a escuridão,
Põe tudo a nu,
Sem panos quentes,
Sem meias verdades,
É toda inteira,
Nas intimas partes que a compõe.
Não a adiemos mais,
A vida só por si já é dura e bela demais.
Descompliquemos então,
Abracemos a felicidade !