fevereiro 17, 2023

Convite

 Não sei onde me habita a tristeza,

Alojou-se em mim depois da minha minha mãe ter partido,
Pediu-me guarida e instalou-se discretamente.
Às vezes nem dou por ela, passa-me despercebida.
Mas se lhe toco ao de leve,
Lá se agita toda e é um espirrar de soluços e lágrimas delicadas.


Primeiro veio um vazio, como se me tivessem arrancado um órgão
Ou uma parte física do meu corpo.
Um vazio enorme,
Um buraco gigante que me fez duvidar se estaria oca por dentro.
E a tristeza que se andava a passear tristonha do lado de fora,
Veio aninhar-se ao vazio dentro de mim.
Toda contente, a chorona,
Achou que podia permanecer no meu regaço, 
E tem-no feito com regularidade, 
Com o seu jeitinho discreto e lamechas.
Não quero que me habite, 
Pode vir ver-me uma ou
outra vez,
Mas não quero que fique,
Nem que seja em mim moradora.
A tristeza é boa para cicatrizar a dor, para preencher o vazio,
Mas melhor que a tristeza são as memórias felizes,
E é a elas que dou permissão para permanecerem.
Por isso convido a tristeza a sair 
Sabe-se lá de onde em mim, 
E embora resmungue "que é tao triste uma tristeza
Andar por esse mundo sem sítio para morar",
Convido-a a fazer-se boa memória,
Só assim terá lugar cativo.

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