abril 26, 2023

Dia de Sol ☀️ 26 ABRIL 1952

Não estava lá naquele dia, ainda não me tinha sido dado o privilégio de nascer.

A festa era a tua,  vinhas ao mundo linda e rechonchuda,  numa discreta e feminina forma de nascer, com um primeiro respirar sonoro mas não demasiado, o suficiente para se fazer ecoar num raio de vários kms, perfazendo a área da cidade de Moçâmedes. A quarta filha do casal Ribeiro, da família Pires Correia como assim vos conheciam, por herança  do teu avô materno. Em  toda a cidade se fez sentir a festa da tua chegada. O dia começou luminoso, a chuvinha do dia anterior tinha deixado tudo com ar de lavado e as cores pareciam mais contrastantes, os cheiros mais perfumados... Não me lembro de nada disso,  que eu ainda nem era eu, mas imagino assim, alguém tão especial, ao vir ao mundo, faz dos lugares locais melhores e mais belos...  Até os sons se fizeram mais melodiosos, o marulhar salgado na praia, os passarinhos aqui  e ali a comunicar  entre eles, as conversas alegres das pessoas, as canções ecoadas pelas vozes de alguns...A temperatura amena.

Tinha tantas coisas para te perguntar sobre esse dia, mas talvez também  já não te lembrasses... Embora a tua excelente e perspicaz memória, tão viva .
Quem com certeza teria peripécias e boas memórias da feliz data que escolheste para nascer fosse a tua mãe, com quem agora imagino que estejas,  a fazerem um brinde à  existência, que embora  curta suponho que fiquemos a recordar na eternidade.

Sei que tinhas planeado viver mais 2 décadas no mínimo, sei-o porque me disseste, porque me garantiste ... Vê lá da próxima não te enganes, que não aguentarei perder-te demasiado cedo mais nenhuma vez!

Sei que a perda que sinto da tua ausência física é em duplicado, com o dobro do vazio que seria de esperar, o dobro da dor, a tristeza a dobrar... É que perder uma mãe é doloroso,  fica-nos um vazio exposto por dentro sem espaço para se encher de algo mais além da saudade e perder uma amiga, a melhor amiga, é igualmente a vertigem do vazio a preencher-se de saudade. Foi uma dupla e precoce perda. Ainda nos fazias muita falta a todos, talvez tenha havido um erro de cálculo no Universo, um lapso, um engano Divino... Deus não precisava de ter tanta pressa em levar-te para junto dele...Mas tudo bem, vou fingir que compreendo.

Sei que o vazio que a tua partida deixou em muitos corações é maior do que se poderia imaginar, nem tu mesma terias consciência da falta que irias fazer, da dádiva que foi para todos o teu amor, humor, perspicácia, inteligência, determinação, resiliência, generosidade, criatividade... E a sério que não são só palavras, nem adjetivos escolhidos aleatoriamente no dicionário, são atributos que te pertenciam. 

É-me inevitável umas linhas de desabafo... Apenas há 10 meses que te ausentaste... e se fiz bem as contas estiveste 568 meses  presente na minha vida (e eu na tua)...  Não fazes apenas parte do meu ADN, fazes também parte das minhas memórias de vida em muitos meses de existência, dia após dia. Viste-me e sentiste-me nascer e infelizmente eu vi-te e senti-te partir para o outro lado ... Não me conformo, é demasiado triste... 
Só me consola a alegria por teres nascido, mesmo quando eu seria apenas pó de estrelas, nem sequer uma ideia ou projeto, apenas poeira universal, sem nome nem endereço, mais tarde,  consequência do teu encontro amoroso com o meu pai.

Hoje é dia de festa, não vou mais choramingar as saudades e as ausências, vou celebrar , continuo cá, na certeza de ser um prolongamento vivo de ti...

Do dia em que nasceste poucos já terão memória, talvez os teus irmãos mais velhos, ou talvez fossem ainda muito pequenos para registar o dia em que vieste ao mundo... 
Dos dias em que viveste, as memórias serão incontáveis, tantas pessoas que tocaste, no percurso profissional como professora, tantos seres que cativaste, tantos colegas também de trabalho com quem criaste laços de amizade, tantos amigos e afetos, e  que afortunados os teus familiares, filhos, netos, sobrinhos,  irmãos, a todos tocaste com a tua assertividade, com a tua gentileza, o teu jeito suave, meigo  e determinado de ser.

abril 11, 2023

Conselhos de mãe 🦋

Ouvi há dias a frase :


A minha mãe ensinou-me muitas coisas, ensinou-me  o  mais importante, mas não me ensinou tudo, aliás, um dos ensinamentos que me deu foi que o conhecimento se pode adquirir de muitas maneiras e é uma descoberta constante e que devemos estar sempre em atualização, ensinou-me que o mais importante é sermos nós mesmos e amarmos  e  que sempre vamos estar seguros independentemente das circunstâncias.

Ensinou-me que também eu tinha algo para ensinar, bastando querer em mim mesma.

A viver e a prosseguir, a ir em frente, independentemente dos obstáculos no caminho. Também me ensinou que podemos chorar às vezes mas não por demasiado tempo, que nada é mais transformador que gargalhadas genuínas.



Deu-me muitos conselhos e os conselhos são ensinamentos que ficam mesmo depois de estar ausente fisicamente .

A presença, conforto, segurança do amor incondicional de uma mãe é algo difícil de explicar por palavras,

Afortunados de nós que o têm ou tiveram, pois conhecemos  o que é esse cálido colo de amor que nos apara todas as quedas, vertigens, dúvidas e percalços no percurso.

Viver sem uma mãe não é fácil, sem  uma mãe como a minha então, é difícil...Mas faz parte do ciclo inevitável do nascimento e da morte, quanto melhor o aceitarmos e  aprendermos mais felizes seremos, mas leva o seu tempo… E o tempo de “luto” , como lhe chamam,  varia de pessoa para pessoa …

Aconselhou-me a permanecer! A ser forte , resiliente e generosa!

Cada dia que acordo percebo o vazio, a ausência de rede nas agruras na vida, sei e confio que está comigo, nas memórias felizes que são  conforto ao meu coração, mas falta-me em tantas coisas, na permanência física que era na minha vida.

Há dias em que nada me motiva, há dias em que não tenho esperança nem fé...

E há dias em que me levanto e recuso a desistir e lembro-me de tudo o que me ensinou… Sobretudo do quanto me amava 🙏💕